Travessia do canal da Mancha...

Travessia do canal da Mancha...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sonetos

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Sonetos



  (I)

Balada que não parece


             

Chove chuva no seu tempo,
Porque o tempo faz assim
- Será vingança ou tormento
Vingança não serve a mim...

Nada tenho para fazer
Enfim... O faço assim
Mas tanto posso dizer...
Que o posso não escrever...

Mas, dizer como-lo digo
Se não o sei descrever
-Talvez que seja um amigo...
- E qual o castigo?

Palavras leva-as o vento
Recolhidas ao seu jardim...
Plantando vozes no pensamento:
Dizem, - “Não pode ser assim”.

Assim assim, vai a manduca
Sem forças para tocar harpa...
Sem vontade sem trabuca
Sem fogo; se lhe escapa.

- Como pode ser assim
Um tempo que não parece...
As letras cantam para mim
E a música se lhe padece.

Em toques de solidão,
Meu coração estremece...
Seguro, peito na mão,
Volta-lhe as costas e acontece

Fui pilotando ilusão
O barco andou à deriva
Naufragou na minha mão...
Na Ilha que me abriga.

Tanta calçada pisada
Suada p`la rua acima
Oiço lágrimas nela prostrada
Chorada por tanta rima

Fazem-se Senhores de bom agrado
Falam tanto de compostura...
Logo dão uma no cravo
E outra na ferradura.

Prometem Mundos e fundos
Grande esmola é coisa pouca
Esquecem os moribundos...
E o peixe morre p`la boca

Fala-se em criminalidade
A coisa está a aumentar...
E, dão asas aos menores:
Para que a febre se vá propagar.

Está na barriga da Mãe
O futuro vai nascer!!
Dêem-lhe uma arma também
Para que se possa defender.

Da forma que a moca roda
Já não sabe sobreviver;
Cada um come o que tem
E o resto; Que se vá

                *.
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 (II)

Para lá da palavra

               
O feitiço estava lançado
Descompõem-se as feições...
Sem nada, do seu próprio encravado
Sumariamente, renegado aos corações.

Aquele, paga para me prender...
Em sua vergonha, corrupta fachada...
Nem glória assim posso escrever
Nem neste ( 1(Pai ) bandeira manchada...

Emporcalhado, desprezo; solidão...
Nem gota antiga, no sangue desbrava
Nem manejar, da espada, manejava.

Quais palavras viciadas
Quais andanças das mesmas faladas
Qual alçada move o justo
Qual justo justifica a justiçada

Então, fica aumentada a contada
“Coitado”: Corpo franzino, carregado...
E, como se não chegasse, ainda, pregado...

Já se esquecem de ser gente
Abrigados na lei que os designa
Envolvem-se que sua culpa é docente
Seja o que for, quem queira, castiga.

Verdadeiros aldrabões conheci
Em suas guinadas tropeço
Ò da guarda, chegue aqui
Que dessas mentiras eu não conféço.


Tantos esforços em fomes passadas
Tantas palavras pela `PIDE` caladas...
E quantas prisões abarrotadas?
- Quantas vontades forçadas...

- Quantas vozes aos cravos se deram
... Se as esqueceu, nada por elas veneram

Tudo fica para lá da palavra
Quando vejo como desejo...
Com forma de real, não acaba
Nem ofusca sonho macabra

                      *
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(III)

Expressões rimadas


Fui para ver o Tarzam
Caí n`uma escura solidão
Libertei-me do ontem, “amanhã”
Como que, acabasse toda a ilusão

Para dentro dos sentidos entrei
Em profundidade e admiração...
Outros olhares explorei
Pormenores, em mim semeei
Me julguei, não acordei...

Carreguei o corpo com`voos na mente`
Pisei a vida com a idade calçada...
Em passos vagos, deixei semente
Crescendo, perdida, abandonada.

Tristes voltas dei ao sapato
Não que o fosse por maldade
Inocência sim... (É um facto)
Amigo de outra entidade.

Enganado, enganado...
Charmoso, de ignorãncia
Sol ao Poente intrigado
E o `oportuna` do meu lado.

O tempo quer acordar
Move-se no leito do pensamento...
Mexe na lágrima que o vai banhar
Empatando mais um momento.

A Lua pertence aos amantes
Solta as lágrimas que o sol esconde...
Grita gargalhadas aos ignorantes...
E, com sonhos de fantasia, cobre o monte.
       
                         *
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(IV)

O Múrmurio



« -Oiço o múrmurio... Quando chama: Suave brisa, quase secreta».

Não importa se foi julgado
Ou quem para a prisão o mandou...
Pois logo que lá tenha chegado
O maior julgamento começou...

E não falo da consciência,
Nem das lágrimas que chorou...
Falo `das gentes` e de sua incompetência
E dos sonhos que o Homem lhe fechou.

Já padece em seu tormento
Onde o remorso se alojou...
Já carrega dores no pensamento
Quando lembrança feroz ajuntou.

Foi o acto que o prendeu
Outro Homem o condenou...
Nunca a liberdade conheceu
Que mesmo livre,sempre preso viveu.

Outros, raivosos, “como quem diz”
O farão vomitar, se o pão comeu
Não farão `jus`, às palavras de Juiz:
Só às vozes que a ele conheceu.

Onde pára a cultura então
Qual cultura de que falam ou se diz...
Quão pobre é, seu coração...
Que, pobreza tem raiz.

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(V)

BALADA DAS PALAVRAS



Palavras, leva-as o vento
Leva-as o tempo também...
Que o vento, novas trás ao pensamento
E o tempo, dirá: O que elas têm.

Muitas delas são gabadas;
Babadas no coração
Outras quebram em fachadas
Erguem muros de solidão

E quantas, de mão fechada
Marcam alto, voz ferida:
Doí-lhes a cara lavada...
- Rompem a porta da vida...

Do futebol me lembrei
e da bola que é redonda...
Olhei o Mundo e chorei...
Fugi na alma da pomba

Pomba triste enxovalhada,
Saltando só numa perna;
Com uma asa quebrada...
Chora ao sol, que a governa

O tempo está-me a chamar
Sem saber de onde vem
Nem preciso perguntar
Para saber o que `ele` tem.

Já suspirei um pedáço
Já me cansei de falar
Com olhos limpo o terráço
No papel o faço entrar.

A letra vê-se na acção
As palavras entretêm...
Caridade no coração
Uma mão para mais alguém...

Chega a hora da luva branca
Começa o trãnsito a rodar...
Bate no peito esperãnça...
Até as flores querem chorar.

Flores sílvestres nascidas
Florescem na sua dor...
Tomára quem aos Homens prometidas
Para lhes ensinar esse amor.

Águas doces e amargas
Unem-se no leito do amor
Nascem quentes e salgadas
Correm para alimentar essa flor.

O amor é esse brilho
Quando a vida se apaixonar
Como Mãe dá luz ao filho
Dando a Deus um novo olhar

Fui ao recreio redondo
Num passo para cada lugar
Vou para lá,venho ao retorno
Sem sair do mesmo andar.

Teu geito mexe comigo
Parte de mim é teu dom
Grande parte, teu abrigo
E de irmão, bom amigo.

Vou-te levar daqui
Para um sonho de lugar
“Vou esconder-me de mim”
Amar, amar amar.

A terra já anda a dançar
Com o consumismo exajerado...
Gásta-se mais do que ela pode dar
No princípio do futuro esgotado.

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(VI)

Na Morte do Dia



Sou um menino na palavra
Que brinca nas linhas do padecimento
Por outras línguas, não subo nem desço a escada
Mas porto-me como adulto no entendimento.

Eu, protesto que cada dia morri;
Comendo e bebendo, para amanhã voltar a viver
Pois, como Homem fui, como Homem combati...
Porque já os meus pecados acumularam até os poder...

Pois que, a palavra da promessa é esta:

Por este tempo virei e, o Mundo, terá um Filho e uma Besta.

Erguem-se as escadas lá fora
Por onde Breu vai descer...
Quão lento roda uma nora:
Que o crepúsculo vê morrer

Morre audaz e lentamente
Sem coragem de viver...
Abre-se aos olhos de toda a gente
Porque nasceu para morrer

Alaranja-se no horizonte rasgado,
Caíndo do outro lado do mar;
Despede-se de mim chocado
E chora, chora... Chora:
Quando Breu se faz chegar...

É a noite que o faz chorar
Desmaiando nas voltas da nora...
Por cada lágrima, uma pérola no olhar
E um sorriso, florido, em cada brilho de Aurora.

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(VII)

Atenda... Se pudér


Muitos são os corações endurecidos
Caminham com seus olhos vendados
Semeando vaidade pelos caminhos...
Parecendo justos, mas, cheios de iníquidades

Quão miserável a devoção
Que não deixa enxergar a terra boa
Que, nos pedregais rasteja sem o perdão,
Para agradar ao Impio, com gargalhadas há toa

Porque dais uma mão ao desgraçádo
Pedindo galardões com o olhar?
Porque dais duas mãos ao abastado?
Porque vos dobrais?
... Quereis vós, o primeiro lugar?

Olhai as lágrimas do céu, espalhadas...
Louvai os olhos, se madrugar...
Fechai a boca, para que não vos contaminem as palavras...
Abri-de o espírito, que se fecha no vosso amar...

O céu anda a chorar de tristeza
Toda a estrela aponta para o dizer...
Rugem as tempestades, na montanha da pobreza
Aludindo: Atenda quem o souber lêr.

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1 ( País… )
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