Travessia do canal da Mancha...

Travessia do canal da Mancha...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

“Resplandeço de luz e vida”






Tempos são, como palavras
Perdidas no Universo

Viagens, vozes caladas

Ventos vorazes no deserto


Tempos que fossem o meio
Louvados pela saudade
Que em seus entes, peitos anseio
Desejos de mocidade



Fossem vozes, macabras, esquecidas

Primórdios de civilizações;

Viagens que em tempos sumidas

Marcassem novas gerações



Tempos foram e não voltaram

Nos tempos, povos cantarão

Que de viagens, muitas choraram

As marcas seguras no coração



Acho que encontrei a cicatriz rasgada

Por um pedaço de voz erguida

Que no tempo fez a palavra mais contada

Em mim, num adeus, cintilo de luz e vida.

***


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“Por notícia tua”






Dei conta de um Mundo acordado

Quando assim, meu coração alegra

Será que chora, como algo viciado

Se a noite acorda, vesga quimera

Será dali, o beijo procurado na rua;

Aquele que bate, fortemente,

Por notícia tua…



Dou conta de mim, quando lento me levanto;

Quando guardo o segredo de luzes a incendiar…

Dou conta de ti no mais alto vento, onde me acampo

Pedindo no peito, um momento, para te abraçar…

Um após, peço ao tempo que se ausente

Preso no meu sufoco inconsciente.

***


domingo, 7 de agosto de 2011

“Elucubrações fictícias”





Pela escala do horizonte

Não tenho mais segredos

Pelas vozes dessa fonte

Nem ventos de lágrimas e medos
Quando suficientemente chegas pouca

Para fazer-te valente

Eis que te armes de força

Onde toda a palavra seria impotente

Não tombei morto e fiquei sem vida

Só me privei de um e de outro

Longe a renascença anuncia, ida

Vê agora qual possa ser o todo.

***

quarta-feira, 18 de maio de 2011

“QUANDO NOS OLHAMOS, ENFIM”


Quando nós nos olhamos
És tarde que desanda
Olhos que caiem
Plenos em certeza
Quando nós nos olhamos
 És noite que encanta
Saudosa mocidade 
Ou muita tristeza
Sejam brancas serranias
Ou vontade de chorar
Quando nós nos olhamos
Existe um verbo brando
Um rio,
E um gole de mar
Quando nós nos olhamos
A Alma é como um jardim
Tudo em nós encontramos
Quando nos olhamos enfim.
***

“TRIÁCULO AGIOTADO”


Se de ti amava, não sabia
Candura, arena de vocabulário
Mas, senti-me mais eu, que te fazia
Sibilo de grito temporário;
*
Voz alada, cume de lisura
Tecto ementará da experiência
No doce tento, alguma alvura
Com oráculos de certa ciência
**
Que assim remo encomendo
Grande vontade de olho franzida
O versar de rima, estupendo
Coitando caucasiana sumida.
***

“TRANFORMO-ME EM TI”


Transformo-me em ti
Esvaziando-te copo a copo
Poeta, ou vaga de mim
Canto simples, ou acróstico

Agitas no meu peito a brandura
Na avidez estrábica, desesperada
Vento, enfim, gesto e ternura
Imensidão, poema, voz exultada

Transformo-me em ti
Castelo demorado
Imagem caída,
Paredão mordomado

Transformo-me em ti
Bebida da minha vida
Nato inefável no meu corpo
Transformo-me em ti
Esvaziando-te copo a copo.
***

quarta-feira, 20 de abril de 2011

“QUE O AMOR SABE DAR”


Deixas na minha boca o teu doce paladar
Aromas agrestes, amarga palpitação
Que os olhos temperam, mesmo sem te tocar
Deixando nas mãos palpites do coração

Deixas no meu peito, mar crespado
Tempestade no sangue, amargo de chorar
No meu peito, incenso tombado
Lágrima que sobe, vértice de mar

Deixas no meu peito a voz que apaga
Grito de goela estrangulada
Jardim ardente, flor que propaga
Por uma vontade, em teu olhar regada

Deixas no meu peito lembrança tornada
Pelo instante que te soube provar
Aquando nos olhos rebenta a malvada
Daquela dor, que amor sabe dar.
***

segunda-feira, 11 de abril de 2011

“Ocupado”

 
Perguntei para viver
Descansei no fundo do fosso
Pedi a Deus para crescer
Logo ousado, jamais posso

Bati na porta cerrada
Logro maldito me chamou
Chamei a graça largada
Sangue precioso derramou

Para eles sempre falei
Da graça no corpo legada
Do mau que não lhes dei
E do valor, da voz calada

Só queria trabalhar
Sem saber que trabalhava
Quando longe ouvi pregar
A voz que a mim chegava.
***

“Escuro vertido”

Devendo ao peito, tombos de ansiada
Pendem braços, inspirações
Cabo de torre pendurada
Tristes vozes, lamentações…

Andava de escuro vertido
Sem leveza de neve urdida
Nem fios de sol derretido
Ombreira de porta vestida

Lá, chegavam as pernas tortas
- Fica onde estás que vou descer
Penas longas, vagas mortas
Cuidados para dissolver

Não se via por bandeiras
Nem avanços para comer
Só ganchos e choradeiras
Cordas novas para morrer

Assim ergueu, de uma vez
O vaso por merecer
No risco que o satisfez
De unhas e dentes a ranger.
***

“TERRAS SECAS”

Algures alguém agarra
O sonho perdido ao desdém
O toque,
Gemido de uma guitarra
Largado só, sem ninguém

Vim de longe, sem destino
Ao som do verso perdido;
Jeito doce, de menino
A sós, poema vencido

Que assim, fui ao contratempo
Sabendo pisar o caminho
Aquando, passo longe do vento
Porque fui paladar do destino

Lá viria a encruzilhada
Com tormentos e saudades
Vozes de chuva cansada
Em terras secas de vontades
***

“VINHAS TARDE”




Vinhas tarde, ao dia que adormecia
Teus lábios, roxos, desprezo amante
Vinhas tarde, tão tarde, que o dia vencia
De quem, amor, quer tanto

Vinhas tarde, tão tarde, que de ti fugia
A promessa feita, ao sentido fulgente
Tarde vinhas para fazer do dia
A noite veraz e decente

Promessas ao longo do tempo;
Airosidades que a mim fingias
Vinhas tarde, tão tarde com teu lamento
Tarde vinhas que não me vias

Vinhas tarde, meu amor
Quando tanto te queria
Tarde, tão tarde com tua dor
Chegada amarga e perdida

Vinhas tarde, tarde vinhas e vinhas
Com jeitos ferozes em flor
Vozes usadas, restos, vencias
Vinhas tarde, tão tarde amor.


***
Obrigado por me visitar
Abraço. 

“LUZ AO FUNDO”


 
 “LUZ AO FUNDO”


Aventura branca, símbolo de papel
Chama tão manifesta confissão
Que, habilidosa luz, ao fundo do túnel
Acolhe motivo, parte coração

Vénias experimentadas, ao silêncio convertido
Quando no peito se faz mar de empenho tempestuoso
Que logo descontento se haverá vertido
Por um avanço, relevo que pareça virtuoso

Selam-se cerimónias e leviandades
De poucas crenças, paixões escorregadias
Varrem-se memórias, nascem amizades
Com luz, no amanhã de todos os dias

Desperdício lhe mereça a insistência perdida
Abandonada ao campo, de gesto simulada
Se de Império, a palavra é vencida
Estátua esculpida, Tarefa sepultada

Luz ao fundo da veia, pela carne consumida
Luz ao fim, escorrida da santidade
Luz, que seja, sonho ou convertida
Luz que diga, enfim, Saudade.
***

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

“Borboto de primavera”

“Borboto de primavera”

Repouso no teu abraço, apagando a noite crua
Quando trazes do mar a espuma do horizonte
Que logo embebes o branco que em mim perdura
Como uma espera raia, no cantar de cada fonte…
- Que assim voltas para a tua janela
Como a flor mais bela.
***

“Tão-somente”

“Tão-somente”
Posso assim cantar alegrias
Nesse banco de solidão
Sereias, nos olhos fugidios
Quando sentam batidas no coração

Longo mar calha de silêncios
Murmúrios, repassados da altivez
Que fúrias vagam, por sua vez
A voz que ergue seus monumentos
Bastos tormentos
Só a palavra, impotente
Tão-somente
Acaba
Para vencer lavrada.
***

“Música do suor largado”

“Música do suor largado”
Isto é que vai uma melodia
Chuva e vento para o celeiro
Sol, por fantasia
Morre noite, nasce dia
Novo tempo morangueiro
Que do pouco escorrido
Grão de vida é libertado
Em canteiro convertido
Música do suor largado.
***

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

“Palavras cruas”

“Palavras cruas”


Largos momentos de saudade
Tombam peitos dia a dia
Correntes marcando idade
Por cada lembrança de alegria

Lá gemia docemente
Com águas até há queixada
Lavava os pés de muita gente
E de muitos:
Os olhos, encharcava

Bem queriam ser contentes
Quando as mãos sempre doíam
Longe das forças valentes
Tão próximo dos calos que mordiam

Queixumes tornados melodias
Na propícia de cada fulgor
 Seus rios, amparo de vozes fugidias
Perturbação de medos e horror

Soltou-se a palavra pelas ruas
Como folhas sovadas de vento
Logo muitas, se mostraram cruas
Onde ideias perdiam alento.
***

“Segredo ou mágoa”



Enquanto os Mundos colidiam, há minha volta
Afastava-me, adivinhando o impacto que se avizinhava:
- Rasga-te vela perdida
Que já meu vento te embrulhou
Quando a orla cai vencida
O Homem grita, o mar chorou
Achou-se vazio do tudo por nada
Que logo ali se afundou
Tempero dos olhos, vaga salgada
Segredo ou mágoa, o tempo enterrou.
***

“Ruas fartas”

“Ruas fartas”


Peço um abraço, como quiser
Mesmo trovas, noite assombrada
Se nos meus lábios beijo fizer
Doces paladares de voz molhada

Esparsos olharem, seiva lavrada
Génios erguendo, estandarte possuído
Lavam no vento mania vaiada
Repouso, tormento, corpo vencido

Soltei-me livre, sem eira nem beira
Bolsa às costas das solas gastas
Sem macieza de terra certeira
Noite oferecida, ruas fartas
Acompanhando a bandeira sem tenda
Sem luz de candeia, ou voz que se venda.

***

“Para fugir ao Diabo”

“Para fugir ao Diabo”


Caminhei de mão dada com a loucura
Feito menino nas ruas da mansidão
Comi, da goma branca, certa dose de ternura
Gemendo tinta nas cores do coração

Não temi causas curadas
Que o tempo lavou minha mágoa
Onde os olhos vertiam lágrimas
Logo corrida, poema como água

Muitos passos foram largos
Para alcançar a jornada
Uns, bem tortos e amargos
Outros, marcados para nada

Tanta calçada pisada
Para lavar minha dor
Rima nova, bem rimada
Para criar esta flor

Mais não posso dizer
É terreno enlameado
Lá na frente fui morrer
Descalço, para fugir ao Diabo.
***

“Um pouco assim”

- Se elevam dias, onde chego e adormeço
Contando a oferta da própria vida
Os pés frios e um solo que desconheço
Batendo a primeira distância conhecida
- Longe dos passos, absorvo, enfrento
Mostra de uma vontade conquista
Onde muito, essa verdade contento
Pisando, como quem ajoelha sobre a vista
- Não tinha, ainda, terra para cobrir
Noite vesga de lamúrias e gemidos
Rombo de paredes, que lamento de ouvir
Escuridades que lavem do rosto sorrisos
- Que lavassem o sofrimento
Rondado pelas costelas da oferta
Para cada espaço em seu momento
Badalo amontoado, vaga coberta
- Encontro amontoado no interior de cada peito
Esquecido, abandonado ao desdém
Arrombo nas paredes de cada lamento perfeito
Muro derrubado que se ouvisse também.
***

“Tomara”

Tomara que essas muralhas tombassem
Urdindo idiotas de estribaria
Que da água, flores brotassem
Pérolas de paz e alegria

Tomara que os corações cantassem
Canções de amor por voz completa
Que logo ali, olhos se alegrassem
Com cantigas de sorrisos, fazendo festa

Tomara que o céu chegasse
De cores virgens Transcendentes
Tomara que se encantasse
Com obras de todas as gentes

Tomara, tomara que fosse assim
Para que voltasse, sem deixar de o ser
Tomara que ficasse, enfim
Tomara, tomara que o pudesse entender

Tomara que tomasse o tomado
Tomando o que tomasse satisfeito
Tomara que vertido ou entornado
Tomara que o tomasse de todo o jeito.
***

“Soneto de voz beijada”

No monte sorriu de céu
A lágrima que o mar fez chorar
Murmúrios de luz, vozes ao léu
Sonhos verdes por encontrar

Largaria sim, quase ternura
Largos laços de mão em mão
Atento vale de ronda brancura
Unguento sangrado da mansidão

Grandes vasos de pó soprado
Onde o punho tem debandada
O canalha abandalhado
E a vaca de coro sentada

Logo lúdico se alagava
Em vãs palavras de corrimão
Que o tempo assim acabava
Contando batidas do coração

Não chegou para contar
Os espaços da solidão
Nem falou para chegar
Só chegou e disse:
- Não.
***

“Quinteto”

A festa bateu no peito
Enquanto a vida mordia
Batendo o tempo, do mesmo jeito
Nos vazios de quem morria

Mas não foram, nem muralhas
Que raiasse novo dia
Gota de orvalho tecendo malhas
Em passos que a noite vencia

Vara-se a moita talhada
Com negrumes intervalados
Águas livres de calçada
Em brio de rostos cansados

Rompe Aurora atordoada
Cheiros e brilhos lhe dão
Trocam-se ventos, sem dizer nada
Moem-se tempos e encontrarão.

Bem disse o velho ditado:
“Quem corre por gosto não cansa”
Não vai torto nem assinado,
Nem de pé…
- Talvez deitado.
***

“Abandono”

Entoo, voz apagada
Num silvo de pompeio ardente
Longe do peito, maré cansada
Toque de jeito contente
Voz de um povo que não diz nada
No orgulho de gente amuada
Assobio de água furtada
Ao declínio do temporal
Por ali, rio de âncora largada
Que o coração lhe lave o mal
Ora, que seja encastelado
Mas sempre, sempre abandonado.

“Poses do destino”

Esmaga meu pó espalhado
Onde o dia foi terminar
Levanta a raiz do machado
Que faz a voz acabar

Lento vento que sucumbes
Que trepas sobre as arestas do mar
Ripa meus lábios sedentos
Palavra ou dor, parece calar

Onde quietas ficam e mundanas
Caminhos rasgados ao caminho
Poucos são,
Teus gritos,
Vagas e chamas
Fogos aflitos,
Poses do destino.
***

“Eram Apontadas”

Eram sorrisos vendidos
Corruptos e rosados
Rostos e corpos amargos
Olhos bem perdidos
Eram pouco, encontrados
Eram as vozes vencidas
Roucas de tanta cantada
Pois que, ali, a palavra esmaga
Eram vozes torcidas
Aldrabadas
Eram
Mas nunca apontadas.
***

"A Que Vencia”

Procurou em si o mar
A coragem que não encontrou
Na cobardia que o obrigou a ficar
Naufragando,
Naufragado se acostumou
Sucumbindo sobre a vida
- Que ao menos, fosse por um dia
O topo daquela subida
Que ali:
A morte vencia.
***

“Agrura”

Enquanto todos se apertam
Aquele se afasta;
Que lhe dói no peito
Nó antigo
Próprio, vencido…
Amargo de tempo velho
Para um abraço fendido
Que lhe adorna o entretenho
E o ocupa, perdido…
Por um abraço que não veio
Mas ficou, para matar…
A lembrança, alojada no seio
- A fuga;
- O abraço;
O punhal que não quer cravar.
***