Travessia do canal da Mancha...

Travessia do canal da Mancha...

sábado, 29 de setembro de 2012

“Cheguei Tardio”




No rosto cultivo, marcas que a vida disse;
Leitos húmidos, d’amor em águas puras
- Mas porquê, em tal rosto, cor tão triste?
- É o tempo, ó dor, que muito curas

Choro sim, ainda, as lágrimas que chorei
Lavrando mais fundo, a causa, ou razão
Dos cem anos que não nasci, tarde cheguei
Para te abraçar, dos lábios ao coração

Pois que cheguei, tarde, para te ver
Mais tarde, na tarde que te fui conhecer
E em teus braços abertos, choro essa dor

Cheguei, tardio! A beijos incertos
E não te beijei, nem oiro dos desertos
Que colham dos meus olhos, tua boca em flor…

“Caminho de Parecer”




Para ti, ó triste, que lês meu peito
E dele escolhes, a gosto, outras palavras;
Olha aqui, a dor do Homem, do respeito
Perdido em prol de muitas fachadas

Aquando me sento ao largo estendendo a mão
Me vês roto, velho, sem fado ou viola
Julgas-me perdido, sorris e foges então
Pensando mal, pois, olha bem que não peço esmola

Mostro-me simples, demais sou, para mim só
Que sou muito mais, dos tantos que metem dó
Ao tanto que pareço, tudo sou que mereço

Assim, vou a caminho de parecer quem és
Rompendo nos olhos, pedras que mordem meus pés
E alcanço, ao largo, as cores das quais aconteço…

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

«… Fui Feliz?»

«Prosa»



Caminhei no estrado de Deus. Pisei a terra em direção às montanhas. Bebi da sua água e suei o ardor que queima o Homem por dentro. Peguei suas armas e abracei o Mundo… Fui o tirano nas bocas da vaidade; (Ela, a vaidade, não queria que a verdade se achegasse a seu lado, mas sim as coisas que mais lhe agradassem) Já não havia mais que sobrasse de tamanho estreito.

As mãos mostravam-me o tempo passado e a aproximação da outra margem. No rosto, as marcas, como rios secos sobre seus leitos desperdiçados.

Queria parar. Cair mesmo ali, sem rancor ou esperança que me devolvesse a vida. Que me prometesse o sol, o dia e noites estreladas… Toda a minha vida tivera sido entornada nos sonhos, dos Génios de amanhã e, hoje… Hoje não sei o como me fez, a mim, suportar meu próprio peso, nos meus pés, quais me levaram a tanto lugar…



Qual seria a minha verdade? A minha derrota, ou vitória! Foram tantos os caminhos; tantas as razões, pelas quais recuava e recomeçava. E perguntam-me se eu fui feliz. Como posso saber de algo que não reconheço na totalidade? Tive os meus momentos; talvez não tanto como os sonhava, mas, sim. Posso dizer que fui feliz, assim como o não fui.

                                                            ***
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quarta-feira, 4 de julho de 2012

“Não posso ficar”






Ergues o sol e dás luz à cepa do mar

- Que solte da casta 

Ventos ao moinho...

Só quero teu vinho,

Onde o sangue me possa libertar



Não posso ficar

 Estou pronto, para partir;

Se baixo a guarda

Na febre que arda

Ao peito, se a quer sentir



Não posso ficar

 Vim partilhar o licor contigo

Como solução que a bebida confira

Atacar meu nome, que respira

Do copo, o néctar, velho amigo…

                ***

“Já me sobra nos olhos o desígnio dos versos 2”






Depois, apareces tu; vejo-te e o meu Mundo acaba…

Falas-me com afeto, dando voz aos meus sentimentos

Onde escassa história, doutos, momentos;

Preparo de agrura, desdenhando a palavra…



Quais versos, em mim, desprezastes?

-Peço-te ao luar…

Fugindo aos outros, que não te conseguem honrar;

Aqueles que tanto louvastes…



- Vem…

Põe-me a marca do fugitivo,

Antes que minha ausência seja notada;

Ao regresso do licor, em taça envenenada

Sobre o combate “memorável” inda que perdido…

Vem…

Dá-me, desse cálice, um pouco do teu vinho…

                              ***

sexta-feira, 11 de maio de 2012

“Já me sobra nos olhos o desígnio dos versos 1”






Sinto…

Entretido, em mim, teu olhar…

A beldade, nos teus olhos, procurando os meus

Quando se deviam encontrar:

Fogem os teus

Do sol, que te possa iluminar…

Partistes!

Já me sobra nos versos o desígnio dos teus olhos

Num Mundo cruel que só me sabe matar…

Prometo, a mim, todos os dias da minha vida

Varar meus olhos em toda a penúria sentida;

Por não poderem, os teus encontrar

Tais versos saídos, de te sentir e amar…

                               ***

sexta-feira, 4 de maio de 2012

“Oito Rimances”





-Naquele certo dia, a noite chegara cedo
No tempo que em meu coração batia
A lua gritava e o Mundo se abria
A todos os escuros do meu medo

-Não tive outra alternativa,
Que não um segredo vencido
Do sempre que, de mim vertido
Foi e foi, jeito de comitiva

-Mas, não estava para cantigas
Que a voz sobrava ao enredo
Se na garganta secassem cedo
As lágrimas, em ventos convertidas

-Desses ares extrovertidos
Quanto pecantes do destino
Fossem tretas no caminho
De todos os olhos perdidos

-Já me chegava a talhada
Nas balburdias do lirismo
Qual não tivesse civismo
E se ousasse na montada

-Qual trote cavalgadura
Ferrada na fantasia
Que montasse algum dia
Os brancos que página cura

-Só não pode acabar
O atalho da providência
Onde vai a conveniência
Forçar para chegar.

-De porco não me vê tudo
Nem os ossos podem largar
Que enquanto a dor não chegar
Comemora-se o entrudo…


***

“Amor inerente”






Assim foi tua partida
Como uma lágrima caída no meu chão
Que o rosto não mais pode segurar, senão
Do peito fosse perdida

Assim foi o meu amor
Que não podia alcançar
Mesmo de longe te abraçar
Sem as agruras da minha dor

Assim foi, dias acorrentados
Desgostos, segredos por desvendar
Sem a coragem de os marcar
Nos dizeres, a ti, de mim, mais chegados

Eis que me deito e me levanto
Sem nunca sair do chão, que me toque
Que me engula na sua cova e me soque
Na memória, aquilo que não sei tanto…
***

quarta-feira, 2 de maio de 2012

“Fluindo, no horizonte de mim”






O sol nasceu radiante
Sobre a luminosidade de tua beleza
Trajando de imaculado constante
Fios d’Ouro pingando pureza
 
Tudo vestia do branco
Solvido dos olhos que luziam
No céu, um azul deslumbrante
Pelas colinas que os seres serviam
 
Fico ali, imerso nos pensamentos
Olhando um vazio, perfeito, delineado
Fluindo na brisa contornos e correntes
Sobre minha Alma, de plenitude suave
 
Sempre volto na sombra do crepúsculo, ao monte
Para contemplar esse amor, de vento ondulado
Fecho meus olhos, sabendo-te, água de fonte
No horizonte, onde meu rosto é moldado
 
Reparto na Alma aromas de jasmim
Para sentir essa luz," conhecida" apenas por mim.
 ***

terça-feira, 1 de maio de 2012

“Na Boca da Saudade”






Oníricos olhares insolúveis
Lágrimas em verso e paixão
Brios na veia, mais ao coração
Pelo ardor, que em mim vereis

 Incobráveis soluços da voz pendente
Encravados ao leito dos rostos marcados
Pelas linhas mais cruéis, riscados
No horizonte da pérola mais quente

 Dos lábios, ainda perfumados
Pétalas ao deleite do beijo
Teu, onde aventas o desejo
No fulcro dos ventos passados…
 
Quanta terra, ainda, para virar
Se do meu peito sobre a vontade
Dos ventos, na boca da saudade
Inventando um chão a desenterrar…
                         ***

sexta-feira, 27 de abril de 2012

“… Sou, gota por verter”




O teu perfume inebria-me um tanto

Quão de mim, em mim possa ser…

Florir de jeito em flor de campo

Paz, amor, opinião ou prazer

Em suma, das vozes, o Mundo seja mutante

E tudo, tudo não passe de um instante.


Se dessa flor possa um Homem comer

Homem ou Mulher, passos angelicais

Se cumpra o dia nos desejos umbigais

Do que somos, ou não somos, por dizer

Assim, o assunto chega aos demais

Sem que se faça, ou o seja, jamais.



A vida, quiçá, brote aromas de prazer

Se lágrima sou, gota por verter.

***

quinta-feira, 26 de abril de 2012

“Caminho de árvore”






Fechou-se a noite nos lábios entumecidos

Ao silêncio, “cumprindo” de rumores agitados

Gritos vorazes, campos magoados

Se do peito, “nas costelas” badalam gemidos

Que lamentem os amargos, sem vozes de explicação

Nas labaredas do tempo, que marcham ao lado

Que alimento é esse que agrada ao gado

E bebe do céu cargos no coração.

Volta-te, que lhe acusas esguias

Rompendo teus braços perdidos ao desdém

Se parece, dali abraças alguém

Olhando para cima de todos os dias…

                    ***

quarta-feira, 25 de abril de 2012

“Carreiro Universal”






Vaguem-se no céu as estrelas

Entre galáxias de luzes e sortes

Que o sonho guia

Acorda e caminha

Sobe os carreiros das mortes

Em suas veredas, carregam molduras

De passos obreiros, a meio inteiros;

Sempre adormecem, sonhando sobre os ponteiros

Escapando às Vozes “agruras” mesmo maduras…

                              ***

“Crédito primeiro”






Digo-te pois, ò festa dura de subir

Que buscas e não achas, ainda que dia…

Acordes te ensinem dessa alegria

Onde se encontra e não podes ir



Pois que alguém te procura, “emundo”

Alguém pode, encontra, alguém quer ser;

Alguém é, se alguém o queira fazer

Se destas coisas manifestas ao Mundo…



Mais me disse; ainda que por outro:

“ Não é chegado o meu tempo,

Mas o vosso, sempre está pronto [i]”.

                        ***



[i] (JO - 7,4)

“Fonte do tempo”






Inânias vêm segredar

Frívolos gritos, tormentos

Quando, levianos desatentos

Abrem bocas, para te cruzar

- Ò vento…

Para onde vais?

Leva-me contigo ao destino;

Onde encontre a caminho,

Das brisas em pedestais;

Leva-me à fonte do tempo

Sem lágrima que te demore,

Ou perca que de ti chore

Contornos de sofrimento…



Ò vento, que não te vejo

Só te oiço murmurar,

Nos lábios que vens tocar

Um jeito feito de beijo.



Não sei de onde vens, nem para onde vais;

Mas sei que te sinto sempre cada vez mais.

                        ***
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sexta-feira, 20 de abril de 2012

“Prova de ânimo”





Se eu soubesse como se chamava;

Argumento de pedra fria…

Quando de longe, amor, abanava

No meu peito a voz que morria;

Chamei-te, de alento,

Triste mouraria

Que em mim constrói o tormento

E a morte de todo o dia.

               ***

"Quero com urgência"




Quero escrever um arco-íris d’amor

Com todas as cores das lágrimas vertidas

Onde, do mais alto acabe a dor

E leve amor às pessoas esquecidas

Quero lavar-me num céu decente

Com banhos de águas vivas

Para que chegue a toda a gente

Ao Mundo e suas feridas

Quero romper a violência

Quero paz e amor com urgência.

                   ***

"Profeta"





Assim brilha a luz verdadeira

Diante daquele, que veio para o que é seu

E é deste a voz derradeira

Quando o que é seu não o conheceu…

Tanto digo o que João dizia;

E disse até que morreu:

O que vem depois de mim

É antes de mim,

Porque foi primeiro do que eu[i].

                 ***



[i] (JO 1,15)